agosto 14, 2005

The Lurker: Diário de uma Terra Estranha - Caderno XII: Surprise, it´s me again!

Recebi a segunda-feira de extremo bom humor... O frio continuava, sem neve agora, com céu claro e, com a cidade a meus pés, vamos ao que realmente interessava: trabalhar na tese. Em 1997, quando estava ainda às voltas com o mestrado fiz uma viagem com a idéia de dar uma espairecida e cujos frutos mais interessantes e efeitos perduram até hoje. Ocorre que, então, ao invés de re-fazer os diversos programas de índio disponíveis (Liberty Island, Empire State and the like) fui enfiar-me na NYPL, NYU, Columbia, CUNY e nas centenas de livrarias que enchem o Village. O pessoal que acompanhava minhs andanças não entendia nada: 'porque este não vai ao Bloomies?'. Bem, basicamente porque prefiro as Galeries Laffayete ou o El Corte Inglés. Mas isto é outra história.

Iniciei com uma andada brutal, da 42 até a B&N na 22nd com Lexington. Foi um pequeno erro de cálculo (de 20 quadras?): eu esperava encontrar uma estação do metrô em uma determinada esquina ? mas errei o lado da avenida. Como não encontrei a entrada, continuei andando... Nova Iorque faz isso comigo. Fico de tal forma absorvido com a diversidade de tipos humanos, de informação visual que, quando paro e olho o relógio já se foram várias quadras. Aí perco a vontade de enfiar-me debaixo da terra e prossigo.

A B&N da Lexington tem uma seção muito interessante sobre os temas que me interessam e, principalmente, no que tange aos livros textos, revende aqueles usados e bem cuidados por universitários. Os preços podem ser da ordem de 55% do preço de capa. Não é um negócio a ser perdido. Foram cerca de três horas de deleite acadêmico, escolhendo e desescolhendo uma infinidade de autores. Foram mais de US$ 300,00 em livros (o dólar estava a R$ 3,20, lembrem-se). O interessante é que, como pude provar minha residência no Brasil, tive um 'detax' de 5%. Pena que não aceitaram minha carteira da UnB como prova de ser estudante, pois aí o corte subia para simpáticos 15%... Pitty.

Você não tem a impressão, quando conhece o trabalho de alguém e lê uma publicação, que essa pessoa é um 'amigo' que está lhe contando uma história? Enquanto me perdia nos livros e sua ordenação cronológica, as evolução das idéias ia fazendo sentido em minha cabeça... e foi mágico. Recentemente tive um momento destes em uma conversa com um famoso pesquisador da área de multiculturalismo e diversidade chamado Gert Hofstede, um dos papas de seu campo. Mas isso também é para contar outra hora.

Já que estava animado para andar, agora, contudo, com diversos quilos de livros para carregar, segui descendo na direção de downtown para resolver uma solicitação de produtos de pintura na região de China Town. Não, não é minha parte favorita da cidade, exceto por uma loja de 'army surplus' em que nunca entrei, apesar de ter passado na frente uma dezena de vezes. E lá fui eu, rumo a Pearl e Canal Street. Nova Iorque é uma cidade padrão americana, com blocos e quadras muito bem dimensionados. Exceto justamente nesta região, que começa na altura do Financial district e desce até Battery Park. Basicamente este é o ponto em que a cidade começou, então a desorganização das ruas é mais interessante. Parece uma cidade dentro de outra.

A meio caminho comecei a ficar meio tenso, incomodado e chegando em Lincoln Square ( foto) dei por falta delas. Na medida que descia, a ausência se fazia cada vez mais pesada... Não que eu realmente tivesse alguma apreciação pelos dois monólitos de aço e concreto, mas a presença era algo, como direi, opressivo. Eram edifícios enormes e tome andar para se aproximar, mas elas não chegavam mais perto por causa disso. O fato de ter visitado a cidade cerca de seis meses antes do 9/11 não ajudava muito e, justamente tinha sido esta a ocasião em que havia conhecido Linda Rubey e Dick Dulancy que moravam perto da zona proibida, abaixo da 13th. Agora, era estranho... Pensei bem.... Não fui ao ground zero.

Uma pequena tontura lembrou-me que eram 13h00 e eu não tinha sequer tomado café. Starbucks para todos! Vamos pegar um Colombian Black com raspberrie muffins. Açúcar e cafeína. A expressão da cultura local. Como digo, quando em Roma, vira-se canibal.

Resolvidos os entraves na Pearl, metrô rápido de volta ao hotel e corrida sem parar para pegar a Biblioteca da Columbia aberta. Sucesso! Mais três horas de 'book-worming'! Centenas de autores! Discussão interessante com um professor incauto que resolveu conversar a cultura da América Latina... Mais um que sabia que a capital brasileira NÃO é B.A.... Eles estão progredindo. Já às 17h30 meus ingressos baratinhos (lá no ninho da coruja) para o Phantom tinham deviam ter sido deixados na Consiergerie, conforme eu havia instruído. Bem, vou poupar a descrição da 'longest play on Broadway' por dois motivos. Primeiro porque tem gente que faz isso muito melhor do que eu e segundo porque, certamente, está na lista de 'musts' de quem vai à Big Apple. Vá e veja é o meu conselho. Uma pena que o Les Miz tenha saído de cartaz: Cameron MacIntosh foi um hit astronômico. Apenas que foi uma apresentação sem falhas (mas sem surpresas nesta terceira vez). Pelo menos pude cantar lá de cima, junto com a japonesada que estava por perto... :-)

Enfim, um dia perfeito, mas cansativo after a fashion, tinha que terminar com meu amigo 'Ol' Blue Eyes'...

How About You?
Writer(s): B. Lane/R. Freed
Performer: Frank Sinatra

I like New York in June, how about you?
I like a Gershwin tune, how about you?
I love a fireside when a storm is due
.
How about you?
I like potato chips, moonlight motor trips, how about you?
I'm mad about good books, can't get my fill
And James Durante's looks give me a thrill
Holding hands in the movie show, when all the lights are low
May not be new, but I like it, how about you?

The Lurker says: Three o'clock is always too late or too early for anything you want to do. (Jean-Paul Sartre)
A seguir o caderno XIX (Nighty, nighty?)

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